domingo, 29 de dezembro de 2013

Another year


Este ano passou por mim como um trovão. Não tive realmente tempo ou coragem para ver muitos filmes. Menos ainda para escrever sobre eles. Mais tarde arrependi-me. Perdi o embalo. As coisas que tinha a dizer ficaram por aqui soltas, misturadas com outras, e esta plataforma parece às vezes já não me servir. Isto, claro, são desculpas. Vejo tanta gente escrever tão bem todos os dias e pergunto-me como conseguem. Como conseguem, com todas as ideias que têm somadas às ideias que os atacam e que não são deles e ainda àquelas onde não conseguem chegar. É preciso dedicação. E é preciso aceitar a solidão da palavra. Este ano dediquei-me a passar a palavra de outros. A minha não me dava sustento, e assim se foi arrastando para longe. Quando os outros arranjaram uma boca mais nova e mais barata que passasse a palavra deles, calaram-me. E então fiquei muda. Sem a deles nem a minha. Um Homem não é ninguém sem a sua palavra. Eu tinha os meus filmes. E eis que fui rever os que me ensinaram a ver, a pensar e a escrever. Foi em boa hora que pude ver na tela O Gosto do Saké, Tokyo Story e Primavera Tardia de Ozu, ou que tive em casa um projector onde vi filmes do John Ford e do Jarmusch, ou ainda a feira de natal do cinema ideal onde comprei filmes do Mike Leigh por tuta e meia. Foi também, longe ia o verão, que vi Aquele querido mês de Agosto e As praias de Agnès. E se há pessoa que me inspirou foi ela, que, sem vergonha e com toda a honestidade, diz que quando tinha uns 26 anos e começou a fazer filmes, tinha visto, por alto, cerca de 8. 26 anos tenho eu e pensava ser muito tarde para (re)aprender as palavras, juntá-las e dar-lhes voz. Talvez seja, talvez não. Não é ainda a hora de descobrir. Com o ano a chegar ao fim, fica o registo dos filmes estreados em sala de que mais gostei. Com evidente destaque para Like Someone in Love de Abbas Kiarostami, e Io e Te de Bernardo Bertolucci. A seguir, e sem nenhuma ordem que valha a pena destacar: Frances Ha de Noah Baumbach, La vie d’Adèle de Abdellatif Kechiche, Noutro País de Sang-soo Hong, De rouille et d’os de Jacques Audiard, La Vénus à la fourrure de Roman Polanski e The Bling Ring de Sofia Coppola. Ainda não vi O grande mestre do Wong Kar-wai, mas deixo-vos um excerto do Happy together que espero servir de inspiração ao ano que se avizinha. A todos os que ainda me lêem, e também aos outros, sejam felizes, à vossa maneira, juntos ou separados, se não aqui, no fim do mundo.